ABC da Dengue.


O palco está montado, os personagens estão soltos e o processo está podre. Vítimas estão cada vez mais morrendo e assim continuarão, pois num mundo como esse, utópico, a sociedade apenas reforça seu complexo de acomodação criticando inúmeras vezes o governo que não está totalmente correto, porém, sendo balanceados estes dois, não se vê muita diferença, portanto, novas vítimas terão de ser feitas e novas epidemias alastradas para assim, quem sabe, alguém tomar uma providência.

Fácil mesmo é criticar, difícil é querer ajeitar. A visão imparcial da população assusta, visto que, tudo acontece e nada é feito, vê-se mães desesperadas nas unidades públicas de saúde com seus filhos morrendo e você em casa, assistindo o noticiário, tomando uma cerveja e em seqüência colocando-a empilhada a um monte de outras formando um imenso “criadouro” de larvas e ainda diz assim: “Maldito governo, porque não dão um jeito nisso!” E com um ar de dono da verdade critica sem perceber o ciclo vicioso que está sendo criado, formam-se filhos críticos e cria-se uma geração de babacas repetidores de palavras soltas ao ar.

Dengue é como “ABC” de criança e adolescente, que passa vida inteira aprendendo como assim: “Não fale com estranhos, não atravesse a rua sozinha, não use drogas, não faço sexo sem camisinha e blábláblá”. No caso, a dengue é assim: “Não deixe água limpa empossada em nenhum tipo de recipiente que possa se formar volume e assim torne-se um criadouro de larvas para que assim não haja proliferação do mosquito”.

Algo deve ser feito! Lógico, isso é inegável, porém o processo está podre, o ciclo está sem harmonia, a sociedade não está preparada para aprender a agir em conjunto com o governo. Há a conscientização do governo para com a sociedade, porém não há a conscientização da sociedade para com o processo.

É bem verdade que o governo não é dos melhores e que os meios e métodos utilizados pelo mesmo não são atualizados, alguns funcionários são preparados, porém, a estrutura não permite um melhor funcionamento por parte do governo, que se resume ao combate em campo, a conscientização e a coleta de dados técnicos. Pois bem! Visto que o cenário foi descrito, só resta explicar o meio do processo que justamente é o que não funciona, ou seja, a ligação entre sociedade e governo.

É o mesmo que esfregar gelo, não adianta o governo armar toda uma base pra que a sociedade não dê o complemento, não adianta o cidadão tomar todas as precauções cabíveis e o vizinho nada fazer, o mosquito continua se alastrando de acordo com a irresponsabilidade minha e sua, portanto, vê-se claro que: o problema é mais “psicológico” que científico e a medida a ser tomada é simples: apenas uma conscientização interna de cada cidadão.

1 Comment:

NEY FARIAS said...

Ausência

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces.
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada.
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.


MORAES, Vinícius de. ANTOLOGIA POÉTICA.